O outro sou eu

Nossa pesquisa se chama pergunte as árvores, onde a pergunta tem a intenção muito mais de ouvir. A pesquisa caminha para conhecermos com quem estamos conversando, o licuri, o dendê … mas gostaria de brevemente pensar o que é esse diálogo de um ponto de vista meta-fisico, físico, poético, técnico, e tudo mais que possa ser, como sempre esse texto faz parte de um diário de bordo, que visa compartilhar pensamentos em construção.

Foi um ano de conversas digitais, mesas digitais, exposições digitais, e a palavra de ordem era distância física e nossa pesquisa pensava uma aproximação, um sentir.

Neste ano que está quase indo no momento desta escrita e para você caro leitor muito provavelmente já é o ano passado irei registrar nossas participações e trocas em eventos, além de muitas lives, reuniões de grupo e discussões que foram fundamentais, para a pesquisa e para nós pesquisadores.

Nosso dialogo se baseia em uma manipulação de ondas eletromagnéticas que atingem nosso sistema eletrônico (acoplado a planta) e nossos corpos biológicos.

Essas ondas podem ser definidas como, uma oscilação periódica de um pulso de energia, que se desloca através do espaço ou por um meio(liquido, solido ou gasoso), essa onda pode ser gerada pela ação humana como as ondas de rádio geradas, ou unicamente por meio natural, como a luz do sol, quando nos movimentamos em volta do sistema microeletrônico e/ou sobre as plantas, geramos sombra, bloqueio ou reflexão dessas ondas e alteramos a forma ou quais ondas chegam ao nosso sistema, também interferimos no sistema com as ondas geradas por nossos corpos, e todas essas interseções são traduzidas em som.

As ondas eletromagnéticas ao nosso redor estão em estado irradiado, e assim elas percorrem grandes distancias em todas as direções a partir de um ponto, o termo irradiado significa justamente que ela se expande pelo espaço em todas direções, sem uma guia. Quando usamos uma antena, aproveitamos as características de condutibilidade do material usado pelas antenas para, captar e guiar essa onda irradiada em onda guiada (ou vice-versa), ou seja, fazemos com que a onda que atinge a antena, percorra o corpo da antena até um ponto especifico, que pode ser uma televisão ou a saída de som de rádio

Uma antena é comumente entendida como a foto abaixo, uma antena de rádio ou tv.

Mas em nossa pesquisa a antena é a planta, mesmo com um baixo teor de condutibilidade, é uma antena.

Os fios e componentes eletrônicos que transformam o sinal captado em som, também se compartam como antenas.

Com nosso corpo e os movimentos que fazemos, interferimos diretamente nas ondas e quando tocamos na planta ou nos fios e componentes, viramos propriamente mais uma antena no sistema.

De um ponto de vista humano, as plantas não falam, não emitem som. Existem sim, grandes pesquisas que analisam os estalos das raízes e dos troncos das arvores como possível comunicação entre elas, ligações e trocas de informação através de conexões subterrâneas das raízes de determinadas árvores, comunicações através de odores emitidos pelas plantas e fungos que cobrem as árvores, essas pesquisas são muito bem trabalhadas no livro “A Vida Secreta Das Árvores” do autor Peter Wohlleben, porem ainda não temos bases cientificas suficientes para entender esses fenômenos, são pesquisa bem inicias e com muitos pontos a serem discutidos em diversos níveis.

E aqui vai uma opinião bem pessoal sobre o livro, que é incrível e recomendo muito a leitura, porém me incomoda um pouco a necessidade de personificação constante de comportamentos, a necessidade de que as relações das árvores, que estão em pesquisa, sejam a mesma que nós humanos temos, termos como “amigas”, “agradecimento”, ”gostam”, “interesse” … que no livro é atribuído as arvores, e que neste momento que leio enquanto pesquisador, me soam quase que como uma intencionalidade de marketing estratégico, para atingir determinados públicos. O que não tira o mérito cientifico do livro, apreendi e muito do que trago aqui está neste livro.

Eu sinto as relações e trocas das arvores e até mesmo da flora de uma forma mais geral, como um pulso que se faz por que é necessário, eu acredito que na natureza as interações se dêem em um nível de linguagem mais livre e espontâneo, onde quando uma arvore compartilha algo com outra, ela o faz porque tem que fazer, porque é necessário fazer, não creio em um seleção ou em uma amizade (nos termos que nós humanos, usamos essas palavras), eu penso em uma relação muito mais de todo, já que os estados da matéria é cíclica e viver e morrer são tão embaralhados que mesmo sem tirar o tempo da equação, os dois termos viram um borrão tão grande que viver e morrer não fazem sentido, são apenas estados de matéria física, onde o “vivo” e o “morto” têm a mesma importância, um depende do outro, os dois compõem o mesmo, são o mesmo.

Depois de todo esse discurso, em um tom que pode soar até mesmo pessimista ou desanimador, me fica a questão, o que eu entendo por conversamos com as árvores?

Assim como o ciclo de vivo e morto, eu entendo a constituição das coisas no mundo físico, como o campo da física entende, tudo é matéria ou energia, eu e a cadeira que estou sentado no momento em que digito este texto, somos compostos por matéria, o que nos diferencia no mundo em que vivemos é a formação química e os agrupamentos desta matéria, em uma visão de mundo microscópica, em escala atômica, somos a mesma coisa.

Existe também no campo de estudo da física, o conceito de entrelaçamento ou emaranhamento quântico, que constata que um ou mais objetos estão tão ligado a outro(s) que quando se exerce uma força sobre um objeto o(s) outro(s) reage(m) instantaneamente, mesmo que os objetos estejam, cada um em uma das extremidades do universo, o que demonstra que os objetos estão ligados, estão de alguma forma se tocando, mesmo com distâncias astronômicas, a natureza do entrelaçamento quântico é tão misteriosa, que desafia a convenção de que a maior velocidade possível é a da luz (e dai a ideia de entrelaçamento ou emaranhado), e foi chamada pelo físico Albert Einstein de as “fantasmagóricas ações à distância” (veja um pouco mais clicando aqui), o emaranhado é um conceito teórico ainda com gigantescas lacunas a serem descobertas, sendo uma teoria que explica alguns comportamentos que observamos, mesmo que ainda não possamos explicá-los de forma completa (assim como muita coisa nos estudos da mecânica quântica ou física moderna).

E com isso vem a minha teoria da conversa com as árvores, deixando muito claro que não acredito que as teorias físicas moldam as artes, acredito muito mais em uma relação simbiótica onde uma molda a outra, a partir de uma mistura de poesia e lógica.

Eu vejo a conversa com as arvores como uma viagem interna que enxerga o todo, onde quando eu pergunto a uma arvore que está na minha frente, que estou tocando, eu na verdade estou perguntando para a árvores que habita em mim, que não é a arvore física que estou tocando e  ao mesmo tempo é, onde eu sou a árvore, a árvore sou eu, e sempre fomos um só. Loucura né? Deixa eu tentar desenvolver a ideia melhor.

Assim como meus ancestrais habitam em mim e me moldam, onde a biologia e seus estudos com o DNA demonstram muito bem, as outras formas de vida também habitam em mim, pois somos feitos do mesmo “barro” e o fato de estarmos agrupados diferentes nesse momento, não apaga os ciclos e ciclos que se passaram, onde já fomos agrupados, tenho essas marcas em mim, sou eu, e ainda estamos emaranhados. Continuando na noção de ciclo sem fim, quando eu converso com uma árvore eu estou perguntando a árvore que vive em mim, e que, assim como a biologia identifica os traços no meu DNA dos meus ancestrais humanos, creio que em um nível muito mais profundo e instintivo também habita em mim a árvore, e me molda.

Cada pessoa ao interagir com a mesma arvore está entrando em contato com a árvore em si, que lembro é também a árvores que vemos e tocamos, mas a arvore em nós é única para cada um, vem de nossas bagagens, nossas visões, nossas experiências e medos, onde com o ato de perguntar acessamos uma dimensão onde lembramos que sempre fomos um só. Pode parecer que estou colocando o humano no centro da coisa, mas é só um exemplo, entendo que essa interação e a comunicação seja algo universal, então em algum nível a arvore tem o humano que habita nela, mas sem uma ideia de personificação, para mim, a arvore apenas pulsa de formas diferentes, assim como pulsa diferente quando está frio ou quente, ou na presença de um ou outro humano, em uma relação de troca e conversa que não necessita da lógica e dos julgamentos que envolvem as relações humanas.

Ao escrever e pensar enquanto escrevo, imagino que as conversas que temos com outros humanos (ou outros) seguem a mesma ideia, ouvimos o outro em nós, já que uma mesma fala vai ser absorvida e entendida por cada um de formas diferentes, a mesma fala ouvida pela mesma pessoa em momentos diferentes, geram coisas diferentes, o que mudou foi o ouvinte, o outro em nós está transmitindo outra mensagem.

A ideia de matéria do ponto de vista físico me faz pensar, que somos constituídos das mesmas substancias, ou seja, somos um só, e somos ao mesmo tempo coisas separadas, onde o limite, a linha, do que sou eu e do que é outro e onde somos o mesmo, ainda é desconhecida e talvez nem exista.

Enfim, é pura poesia, como disse acima é um pensamento em construção.

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