Ancestralidade e tecnologia: uma perspectiva africana
EDITAL PIBIC 2022/2023 Bolsistas: Leticia Negalê e Maria Vitória
Resumo
Projeto de pesquisa no campo das artes e do audiovisual. Associando saberes e práticas de campos interdisciplinares, incluindo filosofia da técnica, antropologia e arqueologia de mídias, pretende-se investigar (1) as condições de possibilidade para o surgimento de tecnologias de informação e comunicação como a fotografia, o telégrafo, o rádio e o cinema, (2) sua inscrição em um projeto de expansão e domínio colonial e (3) as possibilidades de reapropriação dessas tecnologias por sujeitos e grupos marginalizados e ou subalternizados. Desse modo busca-se analisar dispositivos e infra-estruturas, expondo as complexidades do advento das chamadas novas tecnologias, inseridas em um discurso que enaltece o progresso civilizatório mas é indissociável da exploração de povos e territórios. Para tanto buscaremos através das artes e seus processos criativos produzir novas imaginações políticas e novos modelos tecnológicos.
Objetivos
O objetivo geral do projeto consiste em pesquisar como as tecnologias de comunicação e informação são (re)apropriadas em narrativas desobedientes nas artes e no audiovisual.
Como objetivos específicos podemos citar:
1. Analisar o advento das tecnologias de comunicação e informação como agenda da
colonialidade/modernidade e do capitalismo;
2. Investigar a apropriação dos meios tecnológicos de produção do audiovisual e das artes por
minorias políticas;
3. Localizar produções anti-coloniais e contra-hegemônicas que subvertem os conceitos
tradicionais de mídia e tecnologia em seus processos de criação ou narrativas;
4. Pesquisar distintas concepções de arte, em busca de uma perspectiva tecnodiversa.
Justificativa
Pensar o audiovisual e as artes a partir de uma perspectiva anticolonial significa repensar não apenas seus temas ou seus autores, mas suas dimensões simbólicas, técnicas e epistêmicas. Significa repensar estruturalmente dispositivos e aparatos, e investigar como relações éticas e estéticas forjadas na colonialidade criam condições de possibilidade para a produção de subjetividades. Nesse sentido, buscamos o diálogo com matrizes do pensamento decolonial e descolonial, com o afrodiaspórico, com a matriz contracolonial, com as releituras produzidas pelos artistas pós-coloniais ou pós-independência africanos, assim como com o perspectivismo ameríndio, que põe em causa o entendimento da cultura, da visualidade e da representação a partir do diálogo entre a antropologia e epistemologias dos povos originários do continente.
Ao mesmo tempo, os avanços do capitalismo global e do neoliberalismo tornam cada vez mais urgente e necessária a articulação do audiovisual a políticas da memória, no sentido da resistência de subjetividades e territórios (físicos e simbólicos) sob ameaça.
Realizaremos uma pesquisa qualitativa através de revisão bibliográfica e do estado da arte da
questão, incluindo análise de obras artísticas e entrevistas. Trabalhando desde a perspectiva
integrada do Laboratório de Pesquisa Balaio Fantasma, visamos ações unificadas entre ensino,
pesquisa e extensão, associando orientandos da graduação e da pós-graduação, em aulas, lives,
reuniões semanais e desenvolvimento de obras e textos.
Dentro deste panorama, iremos refletir sobre artistas e grupos que estão surgindo no cenário
contemporâneo impondo uma nova agenda para a produção e a circulação de imagens, buscando
conhecer imagens que invertam a perspectiva de um olhar suposto universal, dando origem a
configurações do (in)visível, inventando formatos e criando novas possibilidades de relação entre
imagens e alteridades.
Queremos, portanto, aproximar imagens dos circuitos audiovisuais e das artes, produzindo
intersecções entre modos de olhar e ser olhado em esquemas de produção e distribuição audiovisual
alternativos e à margem da grande indústria. Interessa-nos, dessa forma, padrões inovadores de
autoria e circulação de imagens, feitos também por grupos ativistas, coletivos de mulheres,
associações e movimentos sociais minoritários, interessados em novas formas de produção de
subjetividades e de afetos
Resultados
ações artísticas, artigos científicos e participações em congressos, simpósios, seminários, festivais e
mostras de arte. A exemplo dos projetos anteriores da proponente, que obtiveram destaque
internacional, espera-se uma ampla circulação, considerando ainda a associação com Seminário de
trabalho Cinemas Pós-Coloniais e Periférico, coordenado pela docente na Socine (2020-2022) .
Trata-se de uma proposta de investigação tecnológica que parte de um pensamento da técnica que
não se apresenta “neutro”, mas situado, e que procura incorporar subjetividades habitualmente
identificadas como não pertencentes ao campo da tecnologia como produtoras de inovação. Diante
dos retrocessos que o país vive, precisamos reinventar a tecnologia, as interfaces e a história do
conhecimento.