Tessituras do Indigo

Com a palavra, a artista: “Proponho apresentar algumas questões da pesquisa referentes às tradições da arte têxtil e tingimento com índigo no contexto iorubano e no contexto japonês contemporâneo, a partir de pesquisas de campo realizadas em 2023. Originalmente, os têxteis Adire eram tingidos em índigo a partir das folhas da planta Lonchocarpus Cyanescens. No entanto, desde a década de 1920, com a introdução dos corantes sintéticos, a produção, os padrões e os significados mudaram.
O Adire sempre foi  e continua a ser uma forma de contar histórias. No contexto japonês, o índigo continua uma tradição que tem se renovado, com gerações mais jovens realizando todo o processo – cultivo, processamento de comportado – sukumo (蒅) e tingimento com uso de diversas técnicas de isolamento resistido. Sendo que há duas tradições do índigo: uma com o uso da planta Persicaria tinctória, chamado como tadeai (蓼藍) e a fabricação da compostagem – sukumo (蒅); a outra de Okinawa, com  a planta  Strobilanthes cusia, ou Ryukyu Ai (琉球藍) e extração de pigmento em pasta para criar o doro-ai (泥藍 – “ lama de índigo).
Na pesquisa considero a rede de múltiplos atores humanos e não humanos nos processos criativos e nas produções têxteis, trazendo para o campo da história da arte e da crítica de arte a dimensão das agências não humanas diante dos desafios do contexto da atual e urgente crise climática e ecológica. O campo da história da arte ainda é orientado por uma centralidade antropocêntrica do artista. Muitas vezes não são considerados agenciamentos não-humanos – de materialidades, de elementos orgânicos ou não, na constituição e criação de obras e linguagens. Assim, propomos uma mudança de paradigma e uma investigação sobre a história da arte e os processos criativos que analisam atores e agentes  humanos e não humanos em conjunção, numa complexa rede de atores – humanos, plantas, bactérias, fungos, substâncias, o próprio tecido, divindades e espíritos como agentes.”

*Pesquisada realizada com parte de apoio da FAPESP dentro do projeto temático “Do coração das guerras a poética da plasticidade: criação e engajamento  no pensamento artístico africano dos anos 1980 aos nossos dias”

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