Revista Metamorfose
v. 3 , n. 3 , 2018 – Processos de Hibridação entre Artes, Ciências e Humanidades
É com grande prazer que lançamos a terceira edição da Revista Interdisciplinar de Arte, Ciência e Tecnologia Metamorfose, com um dossier temático dedicado a processos de hibridação entre artes, ciências e humanidades.
Em resposta à chamada lançada em agosto de 2017 recebemos 15 submissões, das quais 7 foram aprovadas pelos avaliadores e tornam parte desse número. A intenção da edição é oferecer um variado espectro de reflexão e crítica, trazendo contribuições de artistas pesquisadores que enriquecem o debate sobre fronteiras entre materiais, sistemas classificatórios e esferas do pensamento. Considerando não apenas agenciamentos bioquímicos ou eletroeletrônicos entre componentes orgânicos e inorgânicos, mas também tradições orais e fabulações, o corpo de textos aqui reunido aponta para a imaginação como poderosa máquina hibridizante, formulando universos impossíveis e compossíveis, povoados por quimeras e ciborgues. Através da desconstrução de relações dicotômicas, tecendo conexões simbólicas e ressonantes, os autores nos conduzem por um curioso universo especultativo. As estratégias podem variar entre a manipulação de dados biofísicos para a criação de uma performance sonora, como na pesquisa artística Self-portrait of an absence, de Graziele Lautenschlaeger; e uma colaboração sustentável entre artista e vermes comedores de plástico, como no experimento estético e filosófico proposto no ensaio Styroworm, de Petja Ivanova. Tensionando limites entre disciplinas e criando ferramentas para pensar os processos de produção e compartilhamento de imagens, a análise da perfomance RioAmsterdam 2012, da artista Moana Mayall, traz o cinema expandido como instrumento para exploração do espaço, desdodrando as camadas imaginárias que se sobrepõem na constituição de um território virtual que une as duas cidades. O mapeamento de territórios e as potências do virtual são também tema de Geopolítica da Vigilância, texto do pesquisador Pedro Diaz que investiga, a partir da noção de “data fusion”, sistemas integrados para a vigilância automatizada e o controle no âmbito da estética, da política e da guerra.
Aspectos mais ligados a epistemologias que concebem a tecnologia desde um ponto de vista não necessariamente alinhado à noção de progresso ou à ideia de futuro, mas como modo de conexão com a espiritualidade estão contemplados, de modos distintos, em três momentos: no artigo Máquinas de visão: O MAHKU – Movimento dos Artistas Huni Kuin em suas práticas de experimentação visual, do antropólogo Amilton Pelegrino de Mattos, que traça linhas de fuga entre design e antropologia a partir da experiência de Laboratórios de Arte e Percepção ministrados na UERJ, em outubro de 2017; no ensaio Al Zahir : O virtual e as portas para a compreensão, da artista pesquisadora Alice Dalgalarondo, que estabelece um diálogo com o conto do escritor argentino Jorge Luis Borges através da criação de um objeto de contemplação para uma sala de meditação virtual; e finalmente no Questionário sobre Tecnoxamanismo, versão completa da entrevista sobre o campo experimental clínico, estético e tecnológico concedida pela rede Tecnoxamanismo em setembro de 2017 a Laudano Magazine e que fecha essa edição.
Esperamos que as propostas aqui partilhadas abram outros caminhos de pensamento e criação, inspirando novas formas de contágio.
Boa leitura!
Paola Barreto Leblanc
Editora Chefe