Materiais e Métodos

A pesquisa trabalha diretamente sobre a questão da materialidade dos meios eletrônicos – seja a materialidade sutil das frequências eletromagnéticas ou a materialidade densa dos circuitos integrados. Estas estão também associadas à materialidade orgânica das flores secas e de nossos próprios corpos, tendo a modulação de campos eletromagnéticos como fio condutor.

Desde o início da pesquisa enfrentamos a dificuldade de distinguir em que faixa do espectro nossos aparatos estavam trabalhando.  Para melhor compreender as variações de frequência ao fazermos alterações e ajustes, seja nas bobinas, seja nos componentes eletrônicos, precisávamos ter melhor controle desse dado. Para tanto um espectrômetro seria o aparelho mais indicado. Na falta deste equipamento, utilizamos um software que simula seu funcionamento através entrada de som do computador, o programa “Soundcard Scope[1]. A fim de minimizar as interferências, ao invés de usarmos um microfone usamos inicialmente uma conexão por cabo da saída sonora do circuito até a entrada de áudio do computador.

A utilização do Soundcard Scope foi um grande ponto de virada para o projeto, pois nos deu uma visão mais precisa do que está ocorrendo com o sistema. Conseguimos perceber a partir da leitura do programa variações em frequências que não percebemos com o ouvido humano, identificamos o grande problema de interferência que campos eletromagnéticos dos equipamentos eletrônicos (computador, monitores) à nossa volta exerciam sobre o sistema, e pudemos identificar que estamos captando todo o espectro de onda audível, além de perceber variações da instalação entre um local e outro bem como a alteração de componentes, impactando na intensidade de uma determinada faixa de onda, traduzida em som.

Nessa investigação descobrimos caminhos interessantes na captura desse sinal, pois a fim de manter o sinal captado em uma faixa de onda não explorada de forma comercial pelas diversas formas de radiofrequência para comunicação humana, encontramos no silício presente em resistores uma ótima fonte de limitação de sinal. A partir destas informações foi possível concluir que o uso de resistores de diferentes valores amplifica ou reduz o sinal das ondas captadas em diferentes frequências.

Foi possível observar também que, com equipamentos eletrônicos ligados próximos as antenas, nosso espectro sofre um grande pico de sinal próximo dos 60 hertz, faixa amplificada de tal forma que abafa qualquer outra perturbação do espectro, sendo impossível ouvir as variações de outros campos.  O espectrômetro nos permitiu identificar essas características, o que deu uma escalada na pesquisa.

Em nossa investigação a preocupação maior foi com o processo de captação e saída do som. Tentamos manter o máximo possível esse processo com componentes analógicos, a fim de preservar o som de forma mais natural possível – tendo em vista que o processo de ouvir as ondas já se trata de uma tradução, e como toda tradução compreende perdas e distorções. Na conversão do som analógico para o digital temos perda de sinal, pois o digital trabalha com amostragem em intervalos e o sinal natural é infinito. Sabemos que as tecnologias atuais nos permitem taxas de amostragem cada vez maiores do som analógico, que permitiria a nossa pesquisa uma captação com altas taxas de amostragem e reprodução. Porém estamos em uma pesquisa experimental interessada justamente nessa infinitude das ondas, não apenas como captação e reprodução refinada desenvolvidas para fins comerciais ou militares, mas como ponte de comunicação com inteligências não humanas também.

[1] disponível em: https://www.zeitnitz.eu/scope_en

Digital X Analógico

Essa constatação nos leva a discussões sobre, como a tecnologia da microeletrônica e computacional têm grandes limitações e no nosso caso a solução pode vir de tecnologias mais antigas, em associação a processos naturais.