A Liberdade da Cidade

Utopia e heterotopia são duas formas de denominar tempo e espaço (seja ele real ou virtual). No texto “De Outros Espaços” de Michel Foucault (1967), entendemos de uma certa maneira como lidar com aquilo que chamamos de tempo e o que chamamos de história.

A heterotopia refere-se a  espaços onde vivemos. A utopia diz respeito a espaços fundamentalmente irreais. Foucault afirma que dentro dos espaços reais existem espaços virtuais, denominados a “utopia do espelho”. O espelho que permite ver-me ali onde sou ausente, em um lugar onde não estou. Essa comparação me faz lembrar da Inteligência Artificial, enquanto ferramenta tecnológica que nos permite elaborar algo através de ideias e pensamentos utópicos, espaços imagéticos e trazer para a sociedade imagens que não conseguimos enxergar na realidade. Mas disso falaremos em outro post. clique aqui

Os espaços reais são aqueles que existem e são formados na própria fundação da sociedade, apontam sua posição geográfica na realidade. 

 

O direito à cidade é um espaço utópico ou heterotópico?

A partir do momento em que o indivíduo muda o espaço onde vive de acordo com o seu desejo, o espaço é utópico. Mas e quando apenas esse indivíduo desfruta desse espaço, enquanto o resto da sociedade está em outra realidade, como acontece nos condomínios, rodeados de muros e câmeras de segurança? Essa utopia surge através de preconceitos, medo, desejo de status e exclusão. É uma superproteção, mas quem são as pessoas protegidas dentro desse espaço de segregação? No curta “Fotograma”, de Luís Henrique Leal e Caio Zatti, é mostrado um belo ensaio poético, apresentando apenas uma cena composta por um muro, atrás do muro existem prédios, duas câmeras de segurança e uma mulher caminhando pela calçada. Aos poucos, a imagem ganha forte significância como instrumento de denúncia das configurações responsáveis por propagar as cotidianas exclusões sociais, principalmente as de cunho racial. 

 

A heterotopologia, termo que Foucault traz em seu texto, nos mostra que não há nenhuma cultura no mundo que não deixe de criar as suas heterotopias. Sendo assim, não deixa de ser uma prática na comunidade. A partir do momento que os diversos grupos da sociedade não realizam essas práticas em conjunto, passam a prevalecer sistemas de privilégio, dificuldade de acesso e relações de poder, aprofundando as desigualdades sociais. Portanto, na discussão sobre o direito à cidade é necessário sonhar espaços utópicos dentro dos heterotópicos e tornar esse sonho realidade como conquista coletiva.

Referências  

FOUCAULT, M.. De outros espaços. Estudos Avançados, v. 27, n. 79, p. 113–122, 2013. 

Fotograma. Curta metragem de Luís Henrique Leal e Caio Zatti. Disponível em: https://vimeo.com/161230135

Últimos Posts