Projeto de pesquisa-ação na Ilha de Maré e seus arredores. Associando saberes e práticas de campos interdisciplinares, incluindo memória social, etnografia, antropologia, estudos das cidades e arqueologia de mídias, pretendemos produzir, através de ferramentas audiovisuais, uma cartografia controversa do território físico e simbólico da Ilha de Maré.

A cartografia interativa desenvolvida neste projeto terá como eixo central o ato de resistir, partindo da noção de que Ilha de Maré é um território forjado nas resistências: resistências dos corpos dissidentes, resistências dos saberes tradicionais contrahegemônicos, resistências de práticas culturais afrodiaspóricas e ameríndias. Considerando que Ilha de Maré é o bairro mais negro de Salvador, a partir da autodeclaração de seus habitantes, o projeto investigará, entre outros aspectos:

Como a comunidade vem desenvolvendo suas estratégias de resistência desde a época da escravidão?

Como, recentemente, enfrenta o turismo predatório?

Como denuncia e cobra soluções para os dejetos da indústria petroquímica que poluem a Baía de Todos os Santos?

Sendo uma pesquisa-ação desenvolvida no campo ampliado das artes, considerando uma ética e uma estética do sensível, pretendemos provocar alguns dispositivos que ativam práticas relacionais com o ambiente, o território, a história oficial e as histórias privadas, a família, a comunidade e a escola.

Isso se dará através de dinâmicas de grupo, residências artísticas e oficinas desenvolvidas com a comunidade, partilhando saberes e práticas em um processo de autoria compartilhada.

No embate com questões como a luta por moradia, o direito à saúde e saneamento, a defesa do território quilombola, a valorização de saberes tradicionais e o empoderamento de marisqueiras e comunidades pesqueiras, acreditamos que a Ilha de Maré nos irá trazer lições sobre resistências, indicando soluções e modos de agir diante dos desafios contemporâneos que se colocam para todos nós nesse momento de pandemia, crise climática e catástrofe.

Objetivos

O projeto pretende colaborar na revisão de perspectivas hegemônicas da história, através da valorização das experiências vividas pela comunidade e sua resistência aos processos de colonização e modernização. Baseado no tripé revisão bibliográfica, pesquisa de campo, residências e produção cartográfica multimídia,  tem como objetivos:

– Ampliar o interesse pela preservação da memória social e os saberes ancestrais, defendendo a importância e o significado do quilombo, como categoria científica e sua atualidade como ferramenta conceitual para compreender e agir na sociedade brasileira contemporânea;

– Realizar uma pesquisa-ação em um território da cidade, promovendo a extensão
universitária e a difusão da pesquisa acadêmica para a sociedade.

Referências bibliográficas

GONZALES, Lélia. Racismos e Sexismo na Cultura Brasileira In: Revista Ciências Sociais Hoje, Anpocs, 1984, p. 223-244.

GUATTARI, Félix. As três ecologias. Campinas: Papirus, 1990.

KOPENAWA, Davi.; ALBERT, Bruce. A queda do céu: Palavras de um xamã yanomami. Companhia das Letras, 2015.

KRENAK, Ailton. Idéias para adiar o fim do mundo. Companhia das Letras, 2019.

NASCIMENTO, Beatriz. Eu sou Atlântica. São Paulo: Imprensa Oficial, 2006.

SILVA, Denise Ferreira Da. (2014) Toward a Black Feminist Poethics, The BlackScholar: Journal of Black Studies and Research, 44:2, 81-97

STENGERS, Isabelle. No Tempo das Catástrofes. São Paulo: Cosac Naify. Coleção EXIT. 2015