Ensaios
Fantasmagorias em processo por Lucas Lima
A fantasmagoria me parece uma estratégia narrativa para elucidar casos de apagamentos sociais, através de indícios, investigações sonoras e até mesmo metafóricas pertinentes em outros âmbitos das áreas de conhecimento. Com toda licença poética deferida ao estatuto artístico, pretende-se além da criação livre, uma imersão nos dados sociológicos produzidos no país desde a sua colonização. Dados inexistentes, dados inventados, dados oficiais, dados das manifestações orais etc que contribuam para o fortalecimento de uma matéria política social justa, desmembrada pelos antagonismos segregacionistas produzidos e proferidos desde então. A elaboração de uma perspectiva que tenta utilizar de uma ferramenta do imaginário ficcional, ligando-a aos estudos científicos despertando a atenção para as informações de cunho sócio-político, econômico, histórico etc que estruturam ou estruturaram as formações de memórias sistêmicas, corporais, institucionais, partidárias etc que são nocivas, necessárias, importantes e por diversas razões despreocupadas com sintomas evidentes, duradouros, perduráveis mas que podem ter seu desenvolvimento ou existência findada por algo passadiço, transiente, perituro. Um fantasma que permita a desorganização, a desestruturação ( até mental ) de vetores racistas.
O conceito que rodeia os trabalhos desenvolvidos através da ideia de fantasmagoria prisma pela criação de um espaço possível de discussão a partir de descobertas de apagamentos de corpos, políticos, históricos e sociais da sociedade brasileira. A conduta da pesquisa insere novos fundamentos de estudos para com a assombrosa escravização e o terror do racismo, fazendo uma interlocução com o cinema e as artes visuais. Os confinamentos das memórias, os descartes de enredos, os desgastes de passados e as destruições de forças resistentes da história afro-brasileira são alguns dos acontecimentos pertencentes às ocasiões de interesses do etnocentrismo branco racista. Algumas retratações do período colonial enclausuram mantras oriundos de outras naturezas. Acentuadamente, essa perspectiva se encontra presente em rituais padrões de organizações atuais. A atemorização estrutural efetivada pela vasta ambientação de disparos evocados por pensamentos discriminatórios geram propagações corrosivas à equidade. O racismo porfioso e consistente gerencia as psicoafetividades humanas com atribuições e noções aterrorizantes, contribuindo significamente para uma sociedade desigual. Essa tragédia continua a atingir níveis violentos, diga-se vidas com violência. As conquistas político-raciais da negritude não nascem do consentimento oportuno das leis do Estado. A concessão de “liberdade” sempre foi pregada como “demonstração de beneficiência”, desestimulando o saber de ações populares executadas em contraofensiva à escravidão. O beneplácito de 13 de maio de 1888 ( Lei Imperial n.º 3.353 de 1888 ou Lei Áurea) não é constituído de imarcescível respeito, mas, sim levada como uma das partes fundamentais de realização duma narrativa espetacular, para mascarar possíveis causas de enfrentamento, do final do século XIX.