AQUÁRIO – instalação interativa

A instalação AQUÁRIO faz parte de uma série de poemas visuais denominada “textoágua”, desenvolvida a partir do Programa Institucional de Experimentação Artística – PIBExA (PROEXT – UFBA), no ano de 2024-2025. Advém de um processo criativo iniciado durante a graduação, no Bacharelado Interdisciplinar (BI) em Artes, no IHAC/UFBA. 

Durante o BI, fiz uma pesquisa de iniciação científica sobre literatura nos meios digitais, pensando a arte da palavra de modo expandido, com orientação da professora Laura Castro (IHAC). A pesquisa se desdobrou no desejo de criar um projeto criativo que envolvesse escritas nos meios digitais. Estávamos no ano de 2021, no isolamento social da pandemia, e tinha retornado para Serrinha, no sertão, permanecendo mais de um ano na cidade onde passei minha infância. Distante de rio e mar, a água retornava em sonhos, em escritos. Além disso, a ideia se configurou através do contato com referências e linguagens de programação que estava estudando. Assim, acredito que a ideia surgiu tanto do contexto quanto do contato e pesquisa com os dispositivos tecnológicos.

De 2021 para cá, “textoágua” virou uma série de poemas visuais interativos e já foi exposta em formatos de vídeo, projeções e instalações interativas. O projeto relaciona o campo das artes visuais, literatura e arte digital. Os textos são criados em interação com sonoridades, com o próprio elemento água e sistemas digitais, através de sensores e dispositivos eletrônicos. Do código – programado na linguagem p5js – é gerada uma imagem: partículas que formam uma palavra específica, apresentando interação sonora e gestual. Através de movimentos de repulsão e atração, as partículas azuis se movimentam no espaço gráfico, produzindo imagens, deslocamentos e ritmos relacionados às águas. 

Neste projeto do PIBExA 2024 foi possível dar a continuidade da experimentação iniciada em 2021, trazendo outros elementos interativos e modos de composição. A ideia da montagem de AQUÁRIO surgiu em 2023, no processo de criação do poema-instalação “Maré alta”, no ICON Lab (Laboratório de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Interatividade, Computação e Novas Interfaces), também no IHAC, coordenado pelo professor Francisco Barretto. O poema possui interação sonora, respondendo às sonoridades do espaço expositivo, e gestual, reagindo ao toque em um pequeno recipiente com água. A partir do protótipo, foi encomendada uma estrutura de vidro 70x70cm para esta nova instalação. 

A montagem de Aquário foi concluída no ano de 2025, e após uma série de testes, foi implementada nas visitas guiadas do Educativo do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC_Bahia) para fruição de jovens estudantes de escolas públicas do Estado da Bahia, através do projeto Estudantes nos Museus, o qual atuo como Arte-Educador.  Este programa oferece visitas guiadas e oficinas educativas nos museus ligados ao IPAC Bahia, recebendo 50 estudantes por dia (terça à sexta), totalizando cerca de 200 estudantes por semana. 

O ambiente expositivo é uma sala pequena e escura, que fica em anexo ao prédio do Casarão do MAC, possivelmente um quartinho antigo de ferramentas ou dispensa. A visita à instalação é um espaço de formação para os estudantes, os quais interagem com a obra mas também se é um espaço pedagógico para descrever como a obra funciona, o envio de dados pelos sensores e placas eletrônicas, abordando sobre arte e tecnologias digitais.

Durante o processo criativo, foi necessário uma série de testes no programa e sensores. A quantidade de água influencia na transferência da carga elétrica do sensor que utilizo, então tive que fazer uma série de testes com resistores para aumentar a sensibilidade. Também, adicionei sal na água para aumentar a condutibilidade elétrica. Originalmente, a instalação é para ser feita com água do mar, e implemento a água do mar somente após estes primeiros testes. Ao trocar a água, foi necessário fazer outra calibragem dos sensores.

A obra, neste sentido, incita outros modos de escrever literatura, agregando modos relacionais de composição poética. É um gesto de escrita que se interessa também por reflexos de luz, partículas em movimento, texturas de água e elementos da natureza, vinculando a criação textual ao ambiente e ao território. Este processo criativo e outros em curso integram minha pesquisa de mestrado, orientado pela professora Paola Barreto, a qual pretende investigar escritas das águas a partir da relação entre arte, natureza e tecnologia. 

Rodrigo Carvalho, do sertão baiano para a beira da Baía. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, na linha de Processos Criativos. Formado no Bacharelado Interdisciplinar em Artes, com Concentração em Cinema e Audiovisual, pelo IHAC/UFBA.

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