A coragem de ouvir

Você não sente nem vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
E o que há algum tempo era jovem novo
Hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer

(Velha Roupa Colorida – Belchior)

Cada vez que penso ou escrevo sobre nossa pesquisa começo a ver cada vez com mais clareza que o ato de educar é um ato de amor, como já nos disseram, e esse ato de amor passa pela empatia. Se colocar no lugar do outro não é fácil. É um exercício diário, eterno, porque sempre estamos descobrindo novas perspectivas e desafios.

Como podemos, se não pela empatia, imaginar uma geração educando outra? A juventude tende a ser naturalmente rebelde, mas é essa rebeldia que nos impulsiona a quebrar preconceitos e limitações herdados. Isso não significa que tudo que veio antes deve ser descartado. Muito pelo contrário! A geração anterior é a base sobre a qual construímos nosso pensamento e o que nos salva de repetir os erros das gerações ainda mais antigas.

O que quero pensar aqui é na, infelizmente, comum frase, “ah antigamente é que era bom” será que era mesmo? o que tinha antigamente de realmente bom? Quando ouço, leio essa frase ou esse pensamento me lembro de minha avó, que costumava responder a esse tipo de comentário com um questionamento direto: “Bom o quê?”. E aí, com toda a sabedoria da sua experiência, ela começava a listar as coisas que melhoraram ao longo do tempo, mostrando como muita coisa hoje é infinitamente melhor. Ao mesmo tempo, ela ponderava, com certa nostalgia, as mudanças que não lhe agradavam tanto. Era uma verdadeira aula, carregada de vivência e equilíbrio, que sempre me fazia pensar.

Quando trago essa reflexão para o campo da educação e das novas tecnologias, percebo que a questão central não é simplesmente “educação X inteligência artificial”, mas sim como lidamos com o novo e como integramos o novo ao que já existe? É um desafio que exige prática, criatividade e abertura.

O exercício de integrar o antigo e o novo deve ser parte essencial do pensamento docente. Quando algo novo surge, o primeiro impulso do educador deve ser: “Como posso usar isso em minhas práticas e objetivos?” Infelizmente, o que vemos hoje é uma tendência de rechaçar o que é novo, enxergando primeiro as dificuldades ao invés das possibilidades. – concordo com o fundo do pensamento, mas não sei se formularia desse modo. não acho interessante esse tom normativo dizendo o que o educador deve ou não fazer. mas acho que podemos refletir sobre a importância de estarmos atentos as transformações sociotécnicas de nosso tempo, buscando modos de nos atualizar…

Educar é um ato que exige coragem, também já fomos alertados, coragem tanto para acolher o que a tradição tem de valioso quanto para abraçar o futuro com a mente aberta. É no equilíbrio entre passado e presente que podemos construir uma educação transformadora.

Obviamente, não quero parecer simplista com esta reflexão. Reconheço que ela não abrange todas as complexidades envolvidas. Há questões graves a serem enfrentadas, como o impacto do tempo excessivo de telas, o acúmulo de resíduos tecnológicos que prejudicam o meio ambiente, e muitas outras problemáticas que atravessam essa discussão. – penso que seria interessante na frase anterior colocar hiperlinks para matérias informativas sobre esses pontos. Podem ser artigos de veículos de informação ou artigos científicos. Neste momento quero pensar como na educação (e sempre que falo educação leia-se educadores) enxergamos, ouvimos e observamos nossos alunos. A prática, sobretudo de ouvir, deve ser o coração de nossa prática docente. Sem ela, qualquer tentativa de educar perde a conexão com seu propósito: o outro.