O dendê de Didi
Curta metragem de Beth Formaggini
O filme da realizadora carioca é uma pequena pérola, nascida a partir de uma conversa, em verdade um áudio, onde ela conta, em detalhes, como um muda dessa palmeira veio crescer no pátio de sua casa.
Encontrei Beth na Bahia em Novembro de 2019, quando tive o prazer de mediar o debate de seu filme Pastor Claudio no Museu de Arte da Bahia. Passamos uma tarde juntas, quando visitamos uma exposição na Caixa Cultural que trazia algumas obras emblemáticas do grande Mestre Didi. No meio da conversa sobre o trabalho do Mestre, sobre pontes entre mundos espirituais e artísticos, entre cinema e fantasmagoria, Bahia e Rio de Janeiro, Beth mencionou uma muda de dendenzeiro, que lhe fora presenteada pelo Mestre, e que agora reinava em sua casa em Laranjeiras. Fiquei eletrizada pela conversa, pela viagem da palmeira, pela conexão com Mestre Didi e o Ilê Asipá, de onde o dendê saiu.
Alguns meses depois, já focada na pesquisa Pergunte às Palmeiras, pedi a Beth que me contasse novamente a historia por telefone, eu não me lembrava ao certo os detalhes, sabia que havíamos nos despedido com a promessa de trazer de volta ao Ilê Asipá mudas dessa planta agora adulta, num caminho de volta, a volta que o mundo dá, como se diz na capoeira. Beth me gravou um áudio lindo, com o qual pensei em fazer algum trabalho.
A pandemia explodiu pouco depois, sendo a própria Beth contaminada pelo virus, que a levou a internação e estado de saúde grave. Graças aos orixás Beth recuperou-se e um tempo depois me contou que havia feito um filme a partir do áudio gravado para mim.
Assisti ao filme no Rio de Janeiro a semana passada e fui tomada por grande emoção. Antes de mais nada por ver minha amiga viva, recuperada, alegre e jovial como sempre; e em segundo por ter a sessão ocorrido não aos pés, mas à altura da copa do dendezeiro, no segundo andar de sua casa. O filme, que eu li como uma video carta, trata dessa conversa delicada entre a vida da mulher e a vida da planta, criando uma espécie de relação interdependente, onde a palmeira faz o filme junto, numa espécie de feitiço, feitiço que chegou até o hospital e trouxe Beth viva pra casa.
Pra completar esse ciclo de beleza, dia 10.12, quinta feira, vou mediar novamente um debate com a Beth, agora sobre esse O dendê do Mestre Didi, nesse evento interessantíssimo do HCTE – URFJ – HOMO POST PANDEMICUS.
Não é lindo?
Axé ô.
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